Durante o Outubro Rosa, as diretrizes das autoridades de saúde são claras: a mamografia de rotina em mulheres sem histórico de câncer na família deve ser feita dos 50 aos 69 anos, a cada dois anos, para detectar o tumor de forma precoce. No mês seguinte, as campanhas do Novembro Azul seguem a mesma cartilha para o câncer de próstata, chamando os homens a realizarem exames como o toque retal e o PSA regularmente. Mas isso é de fato recomendado?
Na realidade, os exames de rotina para identificar o tumor não são um consenso como as mamografias, e as autoridades de saúde brasileiras não recomendam a estratégia a todos, mas sim uma decisão individual com o médico. Citam que há mais riscos, como biópsias e intervenções desnecessárias, do que benefícios, já que seriam poucos os casos identificados de forma precoce que de fato levariam a chances maiores de cura.
— É muito importante ter uma atenção maior à saúde do homem, mas os estudos mostram que a prática de rastreamento para o câncer de próstata não é benéfica a ponto de haver uma recomendação geral. O importante é que o homem fique atento, fale com seu médico e busque os serviços de saúde caso tenha algum sintoma — diz Renata Maciel, chefe da Divisão de Detecção Precoce da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
As diretrizes se assemelham a outras internacionais, mas vão na contramão de grande parte dos conteúdos que circulam durante novembro nos meios de comunicação. Exemplos recentes são o vídeo do canal Porta dos Fundos, com o ator Antônio Fagundes, e até mesmo da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em live nesta semana.
— Quando temos uma recomendação de saúde pública, precisamos olhar os estudos a longo prazo. O que eles mostram é que, na população geral, a redução da mortalidade como decorrência dessa estratégia ou não aparece, ou se manifesta junto a um aumento na identificação de casos que não ameaçariam a vida do homem, mas cujo tratamento pode levar a quadros de incontinência urinária e impotência sexual — continua a especialista.
Médicos ouvidos pelo GLOBO concordam que o impacto positivo não é tão amplo como de outros rastreios – caso do câncer de mama e de intestino, pela colonoscopia –, mas avaliam que há sim casos em que a testagem regular traz mais benefícios do que riscos, especialmente em populações consideradas mais suscetíveis a um câncer de próstata.
— Os estudos têm resultados conflitantes porque é preciso acompanhar um número muito grande de pessoas e por muito tempo, já que na maioria das vezes o câncer de próstata tem evolução lenta. Mas o que a evidência sugere não é que ele deixa de ser benéfico, mas que os benefícios não são iguais para todos. Na nossa visão, eles existem especialmente para as pessoas suscetíveis a partir de 45 anos — diz Diogo Assed, membro do Comitê de Pesquisa Clínica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e oncologista clínico do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
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