Andrezza recebeu alta na sexta-feira (25), mas permanece com algumas limitações por causa da cirurgia recente, por exemplo, não pode realizar viagens, andar de bicicleta ou segurar a própria filha no colo. Mas ela já não sente mais o cansaço, voltou a dormir bem e a falar sem maiores dificuldades. “Agora eu me sinto uma pessoa muito feliz”, diz ela.
O coração de Andrezza foi doado por Itallo Nicolas Cassiano da Silva, um jovem de apenas 16 anos, que morreu em um grave acidente de moto, no município de Patos, no Sertão paraibano. Agora, a família do jovem quer conhecer Andrezza porque querem saber “em quem Itallo vai continuar vivendo”. O sentimento é mútuo: da enfermaria do Hospital Metropolitano, Andrezza afirmou ao g1 que uma das coisas que mais quer fazer é dar um abraço na família de Itallo.
Na noite do dia 9 de julho, Itallo se envolveu em uma colisão entre duas motos. O adolescente teve várias fraturas no crânio e na face e precisava passar por uma cirurgia, mas o cérebro estava muito inchado e os médicos não conseguiam operar. No dia 12 de julho, ele teve morte cranioencefálica.
Durante a noite, uma tia que acompanhava o jovem no hospital ligou para a irmã do adolescente, Rayany Silva, perguntando se a família concordava com a doação de órgãos. Ela conversou com seus outros quatro irmãos e a avó paterna que criou o jovem, que concordaram com a doação de todos os órgãos. De acordo com ela, ser doador era um desejo do adolescente.
“Ítallo era um menino que não sabia negar nada pra ninguém e mesmo perdendo a vida pode proporcionar uma nova vida pra alguém. De onde ele estiver tenho certeza de que está feliz sabendo que salvou vidas. Andrezza é uma mulher jovem, mãe, esposa e sonhadora e eu sei que o coração dele está com uma pessoa boa. Traz conforto saber que ele continua vivo em alguém, e Andrezza se tornou especial pra todos nós”, afirma Rayane.
Apesar de receber alta médica, Andrezza ainda não pode ir até o encontro da família de Itallo porque a equipe médica não liberou a realização de viagens.
Segundo a cardiologista clínica do Hospital Metropolitano, Tauanny Frazão, os pacientes que entram na lista por um transplante cardíaco são diagnosticados com insuficiência cardíaca avançada. A condição causa um cansaço excessivo, que pode dificultar a realização de atividades comuns, como trabalhar e até dormir.
Tauanny Frazão explica que a Central de Transplantes da Paraíba notifica a equipe do hospital quando há um coração disponível. Alguns detalhes também determinam a realização do procedimento: o órgão precisa ser viável para ocupar um novo corpo e ter compatibilidade sanguínea, de anticorpos, peso e altura.
A Central de Transplantes afirma que em 2023 foram realizados 169 transplantes de órgãos e tecidos na Paraíba, sendo 6 deles de coração. O tempo de espera pelo órgão pode chegar até 6 meses, como o caso de Andrezza, mas quatro dos procedimentos realizados neste ano foram feitos em menos de 30 dias. Em agosto de 2023, cinco pessoas aguardam na fila por um coração.
O Hospital Metropolitano e o SUS
Equipe médica durante transplante de coração no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, na Paraíba — Foto: Governo da Paraíba/Divulgação
O Hospital Metropolitano, em Santa Rita, é referência na Paraíba quando o assunto é cardiologia e transplante de coração pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Andrezza foi a quinta paciente a receber um transplante de coração no local.
A diretora-geral do hospital, Louise Nathalie, afirma que a unidade possui uma estrutura de ponta, que permite a captação de órgãos e a própria cirurgia de transplante. De março de 2022 até agosto de 2023, foram realizados cinco procedimentos de transplante do órgão, mas quatro deles foram apenas neste ano.
A unidade hospitalar foi credenciada para realização do transplante cardíaco em 2020. Desde então, a equipe implantou o Ambulatório de Transplante para o atendimento de pacientes que estão na fila para o procedimento cirúrgico. O Metropolitano também é o 5º hospital público do país qualificado para fazer transplante de coração pediátrico.
Duas aeronaves do Corpo de Bombeiros Militar da Paraíba e uma equipe do hospital ficam disponíveis para viajar até o local onde está o órgão e trazê-lo para a unidade hospitalar. Os profissionais entram em contato com o paciente e, dentro de até quatro horas, o procedimento cirúrgico é iniciado.
Coração doado para Andrezza foi transportado de Campina Grande até Santa Rita em uma aeronave do Corpo de Bombeiros. — Foto: Reprodução: Hospital Metropolitano
Louise destaca que todos os procedimentos são gratuitos, realizados através do SUS, o que demonstra sua importância, principalmente para aqueles pacientes que não teriam condições financeiras de realizar a cirurgia ou até a consulta clínica com especialista.
“Aqui eles conseguem fazer tudo de forma 100% gratuita, incluindo o pré-cirúrgico, a própria cirurgia e o pós-cirúrgico. Assim o paciente nunca vai se perder na rede, porque fazemos um acompanhamento para o resto da vida”, afirma a diretora-geral do Hospital Metropolitano.
Após a cirurgia, o paciente fica uma semana na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e é acompanhado pela equipe de transplante cardíaco. Passa por um pós-operatório semelhante ao de qualquer cirurgia cardíaca e segue para a enfermaria, onde realiza o ecocardiograma e a biópsia do coração. Se tudo estiver correto, o paciente recebe alta.
O transplante de coração só pode ser realizado a partir de uma doação de órgãos. Um não existe sem o outro. O que determina a cirurgia é o “sim” da família de um doador, que, enlutados pela morte do ente querido, decidem fazer um gesto de generosidade para permitir que uma outra pessoa, que eles nem mesmo conhecem, continue sua vida com qualidade.
“Sem esse grande gesto de amor e generosidade onde a família decide pela continuação da vida, batendo em outro peito, não conseguiríamos salvar tantos doentes que estão sofrendo e batalhando por uma vida melhor. Por isso que nossa equipe, a cada transplante realizado tem muita gratidão por cada família que em meio a tanta dor e tristeza, tem a nobreza de ajudar o próximo, a quem eles nem conhecem!”, afirma a cardiologista clínica do Hospital Metropolitano, Tauanny Frazão.
PARAÍBA DA GENTE COM G1