Era sábado. Fim de tarde. Dia de feira em Monteiro.
A cidade começava a desacelerar como quem suspira depois de uma semana puxada. Uns recolhiam as barracas, outros ajeitavam as sacolas para voltar pra casa. Havia também quem já se organizasse para o descanso merecido, para um encontro, um entretenimento simples, desses que fazem bem à alma.
No meio desse cenário comum, um fato me parou.
Ou melhor, a atitude de um amigo.
Figura simples, mototaxista, desses que conhecem a cidade pelo cheiro da rua e pelo ritmo do povo. Ele encostou a moto, me cumprimentou com aquele sorriso que não pede nada, apenas oferece presença. Conversa vai, conversa vem, perguntei como ele estava. Eu sabia da luta silenciosa que ele enfrenta todos os dias: a diabetes, companheira indesejada, mas constante.
Foi aí que veio a surpresa.
— Estou me recuperando… — disse ele com naturalidade. — Esses dias tive pneumonia. Fiquei fraco, mas tô bem. Graças a Deus.
Enquanto ele falava, notei algo na moto: cestas básicas.
Perguntei, curioso.
E foi nesse instante que aquele homem simples deu um verdadeiro tapa na cara da sociedade — sem levantar a voz, sem fazer discurso, sem postar nada em rede social.
— Tô fazendo umas entregas… — explicou. — Consegui ganhar um dinheiro bom esses dias, aí resolvi agradecer a Deus ajudando quem precisa.
Fiquei em silêncio.
Ele continuou, com a tranquilidade de quem não espera aplauso:
— Ganhei uma comissão de dois mil reais em uma venda. Foi muito bom pra mim… então tô dividindo.
Ali, naquela frase curta, cabia uma lição enorme.
Um homem que luta pela saúde.
Que vive de ganhos limitados.
Que depende do dia, do movimento, da corrida.
E mesmo assim, quando recebeu um pouco mais, não pensou em acumular — pensou em repartir.
Não perguntou quem merecia.
Não fez contas para ver se sobraria.
Não esperou reconhecimento.
Apenas agradeceu… doando.
Enquanto muitos, com muito, fecham as mãos, endurecem o coração e justificam a própria indiferença, quem quase nada tem encontra espaço para a generosidade.
Talvez seja isso que o mundo precise reaprender.
Porque, no fim das contas, a maior riqueza não está no que se guarda, mas no que se espalha.
E, quase sempre, quem menos tem…
é quem mais faz.
O fato narrado acima tem como personagem real uma figura muito conhecida e querida de Monteiro, na verdade nem sabe que publicamos essse artigo. Esse amigo é a verdadeira prova de que, quem menos tem, é exatamente quem mais faz, enquanto muitos preocupam-se em juntar, ele prefere dividir com quem pouco tem, e as vezes nada tem.
PARAÍBA DA GENTE





















