*Aviso: esta matéria aborda depressão e suicídio. Se você enfrenta esses problemas ou conhece alguém que enfrenta, veja ao final do texto onde buscar apoio.
Depois de viver mais de três décadas com depressão grave e resistente a tratamentos, um homem de 44 anos dos Estados Unidos conseguiu sentir alegria novamente. Ele participou de um estudo que testou uma nova técnica de estimulação cerebral feita sob medida para cada paciente.
Segundo o psiquiatra Ziad Nahas, da Universidade de Minnesota e autor principal do trabalho, a transformação foi imediata. “Ele chorava e dizia que não estava triste, apenas feliz, e que não sabia o que fazer com essas emoções”, contou o médico ao site Gizmodo.
A pesquisa, desenvolvida por uma equipe de diferentes universidades, consistiu no implante de eletrodos capazes de enviar sinais elétricos de baixa intensidade para regiões específicas do cérebro.
O diferencial foi a personalização. Em vez de estimular áreas fixas, os cientistas ajustaram o procedimento de acordo com o mapeamento cerebral do paciente e com o retorno dado por ele durante o tratamento. Os resultados, divulgados em 8 de agosto no repositório científico PsyArXiv e ainda em pré-publicação, indicam que o alívio dos sintomas pode se manter por até dois anos.
Quando a depressão não responde aos tratamentos
O participante do estudo começou a ter sintomas de depressão ainda na adolescência e chegou a ser hospitalizado pela primeira vez aos 13 anos. Desde então, passou por dezenas de terapias, uso de diferentes medicamentos e psicoterapia intensiva, além de múltiplas internações e três tentativas de suicídio.
A depressão resistente ao tratamento é diagnosticada quando não há melhora significativa após pelo menos duas tentativas com terapias convencionais. Nesses casos, uma das opções costuma ser a terapia eletroconvulsiva, usada há décadas. Embora eficaz em parte dos pacientes, esse recurso não funcionou de forma consistente para o homem que participou do novo estudo.
“Grande parte dos protocolos aplica estimulação em áreas definidas por atlas cerebrais padronizados, mas cada cérebro é diferente. É uma abordagem única para todos, que pode não funcionar em certos casos”, explicou o neurocientista Damien Fair, também da Universidade de Minnesota e coautor da pesquisa.
Tratamento feito sob medida
Para encontrar a melhor estratégia, os cientistas usaram ressonância magnética funcional para mapear as redes do cérebro do participante e identificar quais estavam mais relacionadas à depressão. Eles descobriram que uma das redes, responsável por processar informações importantes do ambiente e do corpo, estava quatro vezes maior do que o normal, o que poderia contribuir para os sintomas do paciente.
Com base nesse mapeamento, os médicos implantaram quatro grupos de eletrodos nas bordas das redes cerebrais e testaram a estimulação em cada uma delas. A resposta mais significativa ocorreu quando a chamada rede de modo padrão, associada a processos de pensamento internos, foi ativada.
Embora seja um estudo inicial, com um único paciente, os pesquisadores acreditam que a técnica abre caminho para terapias mais eficazes contra a depressão resistente.
*Se você está passando por depressão, tendo pensamentos de suicídio ou conhece alguém nessa situação, procure apoio. Você pode ligar ou conversar pelo chat dos seguintes serviços:
- Centro de Valorização da Vida (CVV): 188 (24h, ligação gratuita e sigilosa) ou pelo site cvv.org.br;
- Samu: 192 em situações de emergência médica;
- CRAS/CRAS locais e serviços de saúde mental do SUS também oferecem suporte psicológico.
Metrópoles