O pastor Silas Malafaia disse que troca de aparelho celular com frequência e que não tem medo do que a Polícia Federal (PF) possa encontrar no aparelho que foi apreendido com ele nesta quarta-feira (20).
A apreensão foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes (STF), a quem Silas Malafaia acusa de ter montado uma “Gestapo” particular na PF.
A revelação sobre a troca de aparelhos foi feita quando Malafaia comentava suas conversas com políticos. Segundo Malafaia, ele já trocou de aparelho uma vez este ano, do iPhone 13 para o iPhone 15. Em breve, trocará para o iPhone 17.
“Na campanha eleitoral de São Paulo… É que não está nesse celular. Na campanha eleitoral de São Paulo (em 2024), eu mandei mais de 20 zaps para Bolsonaro, para Carlos, para Flávio, para Michelle e para Eduardo, questionando o posicionamento deles em relação a Pablo Marçal (então candidato a prefeito pelo PRTB) . Botando pra derreter. É que não está nesse telefone (apreendido pela PF). Esse é um outro telefone, que já foi embora”
“Tinha um outro telefone?”, questionou a reportagem.
“É o outro telefone que eu tinha, minha filha. Eu troco de telefone”, disse ele. Segundo Silas Malafaia, ele não tem uma periodicidade definida para as trocas. Ele disse ainda que a prática é comum na política. “Todo o mundo político faz”.
“Depois que começou a covardia de perseguição, as pessoas trocam de celular. Agora, não tem nenhum crime. Se eu tivesse esse celular, se estivesse aqui na minha casa, eu abria ele e mandava pra vocês. Não tenho medo de nada, não tem nada contra mim”, disse ele.
“Se não tem problema nenhum nas suas conversas, por que o sr. troca de celular com frequência?”, questionou. “Porque é um direito meu”, respondeu Silas Malafaia.
Na entrevista, Malafaia negou que seu celular contenha conversas que possam constranger autoridades dos Três Poderes. “Minhas conversas são abertas. O que eu falo nos vídeos eu falo nas minhas conversas”, disse ele.
“Vão mostrar conversas minhas com jornalistas da Globo? Da Folha de S.Paulo? Do Metrópoles? Do Estadão? São as conversas”.
“Com políticos que eu falo? Vou dizer quais são os que eu mais falo: (o senador) Magno Malta (PL-ES); (o deputado, líder do PL) Sóstenes Cavalcante (RJ), que é membro da minha igreja. Acho que são esses dois. Falo de vez em quando com Michelle (Bolsonaro). Mando uns zaps para ela, questiono”, disse.
No fim da tarde de ontem, o ministro Alexandre de Moraes incluiu o pastor Silas Malafaia na investigação que apura a suposta tentativa de Eduardo Bolsonaro de interferir no curso do processo contra ele e seu pai. Apesar disso, o pastor não foi indiciado pela PF, como aconteceu com Eduardo e Jair Bolsonaro.
Além disso, o pastor também teve todos os seus passaportes cancelados e não pode deixar o país.
Malafaia teve celular apreendido e passaporte retido
Moraes incluiu Malafaia nas investigações após a PF apresentar trocas de mensagens de áudio entre ele e Jair Bolsonaro, na qual os dois discutem as sanções dos Estados Unidos ao Brasil. Por decisão de Alexandre de Moraes, a PF fica autorizada a vasculhar o celular de Malafaia – ele diz ter entregado a senha do aparelho aos agentes – e também a quebrar os sigilos bancários, fiscais e telefônicos do pastor.
Silas Malafaia foi também proibido de se comunicar com o ex-presidente e com Eduardo. Na noite de ontem, ele esteve na delegacia da PF no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Permaneceu em silêncio diante da PF, mas se manifestou ao ser abordado pela PF após o depoimento.
“Apreender meu passaporte? Eu não sou bandido. Apreender meu telefone? Vai descobrir o quê? Eu ainda dei a senha, porque eu não tenho medo de nada”, disse ele aos jornalistas no Galeão.
O pastor também reclamou da divulgação de suas conversas privadas pelo STF. “Que país é esse que vaza conversas minhas particulares, como se eu instruísse Eduardo: ‘olha, faz assim, ou faz assado’. Quem sou eu? A posição de Eduardo é dele.”
“É uma vergonha. Que país é esse? Que democracia é essa? Eu não vou me calar. Vai ter que me prender para me calar”, disse ele.
De acordo com o STF, Malafaia é investigado por supostamente ter ajudado Eduardo Bolsonaro a praticar os crimes de coação no curso do processo e obstrução da Justiça, ao mobilizar sanções do governo dos Estados Unidos.
Essa articulação de Eduardo com o governo do republicano Donald Trump teria como objetivo evitar que seu pai seja condenado na ação penal que apura a suposta tentativa de golpe de estado entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023.
Malafaia diz que Alexandre de Moraes criou Gestapo na PF
Na entrevista tarde desta quinta-feira (21/8), Malafaia usou palavras duras para qualificar o vazamento de suas conversas com Bolsonaro.
“Esse modus operandi de soltar conversas é crime (…), divulgar conversas privadas. A PF é que detém o controle desses inquéritos. A primeira coisa que vem é que é sigiloso. Agora, a PF de Alexandre de Moraes, que é a Gestapo dele, eles vazam para desviar a atenção”, disse ele.
“Gestapo” é a abreviação de Geheime Staatspolizei (Polícia Secreta do Estado). Era a força de repressão política no regime nazista da Alemanha (1933 a 1945).
“As conversas mostram que eu não sou ‘bolsominion’, que eu não sou um cara manipulado”, disse. “Eles (família Bolsonaro) continuam meus amigos, e nada vai fazer com que isso seja destruído”, disse ele.
Malafaia disse ter perdido viagens aos EUA e a Punta Cana
Na entrevista, Malafaia disse ainda que a decisão do ministro Alexandre de Moraes de reter seu passaporte o impedirá de pregar em uma igreja da qual é pastor nos Estados Unidos. Segundo ele, a decisão também o impedirá de fazer uma viagem de lazer a Punta Cana, na República Dominicana.
“Eu tinha uma viagem… eu tenho uma igreja em Boston, nos EUA, e que faz uma conferência chamada Viva Boston, e eu ia fazer o casamento da filha do pastor Cristian, que vai se casar, a filha menor”, disse.
“Ia também fazer uma viagem de cinco dias com a minha esposa e cinco casais amigos, que a gente tem um relacionamento de décadas. Íamos até Punta Cana (República Dominicana). Foram essas as duas viagens canceladas”, disse.
Malafaia: Hugo Motta não tem palavra e Paraíba dará resposta
Malafaia criticou o presidente da Câmara, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) por não ter pautado a discussão sobre a anistia dos réus do 8 de janeiro na Casa.
“A maioria dos deputados decidiu pela discussão da anistia, e o seu Hugo Motta, que não tem palavra (não pautou). Ele está preso no STF porque há coisas contra a família dele lá. Está fazendo um jogo sujo, vergonhoso e mostrando que não tem palavra. O povo da Paraíba vai dar uma resposta para ele”.
“O Congresso Nacional, que representa o povo, só age por pressão do povo. É o povo que é o supremo poder. Cada manifestação é um tijolinho. Cada vídeo é um tijolinho”, disse Malafaia.
Metrópoles