Um homem foi espancado e jogado no meio de uma rua movimentada pelo irmão da proprietária da casa onde mora de aluguel, no Jardim Laone, zona leste de São Paulo. A agressão aconteceu após a vítima descobrir que havia uma ligação clandestina de água no imóvel e ter o abastecimento cortado pela Sabesp.
O caso aconteceu na Rua da Ponte Rasa, no dia 7 deste mês. No boletim de ocorrência, Kaic Bento, de 27 anos, relata que procurou seu vizinho de muro, Rodrigo Soares, de 44, para tratar do corte de água na casa onde é inquilino. Soares é irmão da proprietária que aluga o imóvel.
Segundo o registro policial, um técnico da Companhia de Saneamento Básico (Sabesp) constatou que havia um “gato” de água na casa, o que era desconhecido por Kaic, uma vez que não foi identificado nem informado pela vistoria da empresa que mediou o contrato de aluguel, a plataforma Quinto Andar.
“Após relatar o ‘gato’ e pedir que me acompanhasse, Rodrigo partiu para agressão física: soco no rosto, chutes, arrasto, múltiplas quedas violentas contra o chão, enforcamento com extrema força até quase perder a consciência e arremesso no meio de via movimentada, obrigando carros e ônibus a frearem bruscamente”, relatou o inquilino à polícia.
Ainda conforme o relato, diversas pessoas testemunharam as agressões, mas só intervieram quando Kaic estava prestes a desmaiar. Ele sofreu lesões no quadril, joelho, pulsos, dedos, pescoço e ombros. Um relatório médico aponta “diversas escoriações e hematomas pelo corpo”.
Kaic relatou que teve problema para transferir a titularidade da conta de água para seu nome quando se mudou. “Entrei na casa em novembro [do ano passado]. Eu fui tendo vários outros problemas no meio do caminho. Problema elétrico, infiltração, falta de água em pia. Eram vícios ocultos”, disse.
Com medo de a água ser cortada, Kaic conta que insistiu, ao longo de meses, com a proprietária para regularizar a conta. Segundo ele, os pedidos causaram discussões e a proprietária chegou até mesmo a entrar com uma ordem de despejo, mas não deu prosseguimento à ação.
Quando conseguiu a transferência de titularidade, o inquilino recebeu uma conta com valor acumulado de meses anteriores, no valor de aproximadamente R$600. Ele contestou a conta na Sabesp e um técnico realizou uma vistoria no relógio de água da casa.
“Tem uma conta em débito, vou ter que cortar sua água”, ouviu Kaic do técnico após analisar o registro. Frustrado e sem contato com a proprietária, ele foi até a casa de Rodrigo para tentar resolver o problema.
“Eu estava vendo que ele estava completamente alterado e me afastei em direção à minha casa, chamando ele, com urgência, porque eu precisava que ele fosse enquanto o técnico da Sabesp estivesse lá. Ele parou, cruzou os braços e falou ‘não vou, ninguém fala assim comigo na frente da minha família e dos meus filhos’”, contou Kaic.
Segundo o relato, Rodrigo começou a gritar, na presença de comerciantes e pessoas que passavam pela rua. Então, o inquilino respondeu: “Você sabe o que sua irmã fez comigo? Ela colocou um gato de água na minha casa. Por causa de uma conta de 600 reais, a água vai ser cortada agora. Minha filha está chegando da escola e não vai ter onde tomar banho, não vai ter onde comer”.
Após a resposta, ele diz se lembrar somente de tomar o primeiro soco e cair no chão. “Ele me jogava na rua para carros me atropelarem, eu lembro de flashes de ônibus, vans e carros. Ele pegou minha cabeça, começou me colocar no meio-fio, a me enforcar”, afirmou Kaic, que teve de pedir licença médica do trabalho e deixar a casa momentaneamente por questão de segurança.
O inquilino registrou boletim de ocorrência no 62° Distrito Policial (Ermelino Matarazzo). Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que o caso foi registrado como lesão corporal.
“A vítima foi ouvida e representou criminalmente contra o autor. Diante disso, a autoridade policial instaurou inquérito policial e intimou o autor para prestar depoimento. As diligências prosseguem para o total esclarecimento dos fatos”, afirmou a pasta.
A reportagem não localizou o contato de Rodrigo Soares. A empresa Quinto Andar não respondeu os questionamentos feitos pela reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.
Metrópoles
