A terapia hormonal para transição de gênero gera inúmeras questões e, para sanar algumas delas, uma pesquisa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA) reuniu dados de 29 estudos de diversos países com pessoas trans em uso de hormônios. O levantamento revelou que as mudanças corporais ocorridas não indicam aumento nos indicadores de risco cardiovascular ou de obesidade.
A técnica de terapia hormonal para transição de gênero consiste no uso de hormônios sexuais, com acompanhamento médico, para promover mudanças corporais que alinhem as características físicas de uma pessoa à sua identidade de gênero.
“Este é o estudo mais abrangente e atualizado sobre os efeitos corporais da terapia hormonal em pessoas trans, com mais de 2.600 participantes”, diz o professor Sávio Gomes, do departamento de Nutrição da UFPB, coautor do estudo. O levantamento mostrou alterações que já eram esperadas: mulheres trans apresentaram aumento de gordura corporal e leve redução da massa muscular, enquanto homens trans tiveram redução de gordura corporal e aumento de massa muscular. Para ambos os casos, a circunferência da cintura não mudou significativamente.
“Nossa revisão, no entanto, mostrou que esse uso de hormônios, apesar de conferir um aumento do peso e da massa corporal, não parece ser um fator que contribui significativamente para a obesidade. Isso reforça a segurança dos protocolos hormonais para pessoas trans”, diz o docente da UFPB. “Nossos resultados então podem orientar nutricionistas a entender como os hormônios influenciam a distribuição de músculo e gordura corporal em pessoas trans, uma vez que os nossos protocolos tradicionais são produzidos com base no sexo e não na identidade de gênero”, complementa.
Vale ressaltar que, como a maioria dos estudos incluídos foi conduzida em países de alta renda, a generalização desses achados para contextos de baixa e média renda ou para populações etnicamente diversas é limitada. Sávio destaca que há uma epidemia de obesidade em curso em vários países do mundo, a qual afeta também pessoas trans. “Isso desafia os serviços de saúde a garantir um cuidado interprofissional, visto que a epidemia de obesidade está afetando as pessoas trans por outras vias, como ambientes e escolhas alimentares não saudáveis, reforçando a necessidade de que exista um acompanhamento nutricional no processo transexualizador do SUS”.
Um estudo nacional multicêntrico segue sendo realizado sobre a saúde da população trans que inclui variáveis sobre saúde geral e bucal, alimentação, estado nutricional e insegurança alimentar para entender as outras vias que não hormonais/biológicas que estão influenciando a saúde das pessoas trans.
Ascom UFPB