O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) demitiu, em novembro de 2019, o professor Carlos Augusto de Negreiros, do campus Bambuí, após a conclusão de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) que investigou a conduta do docente com alunas da instituição de ensino.
Carlos Negreiros foi expulso após escrever a uma estudante, menor de idade, que sempre quis saber se ela “ainda é virgem” e se já tinha pensado nele como “homem”, e não somente como professor. Ele também pegou nas nádegas de um menino e dava bebidas alcoólicas para menores de idade.
“Digo essas coisas pra vc porque vc, apesar de ser ainda uma criança (como vc diz), me dá tanta segurança nas coisas q fala q parece ser uma mulher já feita (e isso me seduz tanto!)! [sic]”, escreveu Carlos Negreiros à estudante menor de idade.
Em seu depoimento, a aluna disse que se sentiu profundamente ofendida, constrangida e usada pelo professor, pois ele teria se aproveitado da sua amizade e confiança. Isso porque a estudante já havia relatado, certa vez, que havia sido vítima de assédio sexual por parte de um parente.
“O acusado, portanto, agiu de modo deliberadamente insensível em sua incontinência de conduta. Verifica-se, pelo teor da conversa e pelos depoimentos, que o servidor extrapolou os deveres que se esperam de um servidor público, especialmente de um professor, ao conversar sobre assuntos inapropriados com adolescentes. O teor das conversas não deixa dúvidas sobre o conteúdo assediatório da conversa, especialmente pelo emprego de expressões como ‘e isso me seduz tanto!’ e ‘sempre tive curiosidade de saber se vc ainda é virgem’”, descreve o processo administrativo disciplinar (PAD).
O docente também foi acusado de pagar bebidas alcoólicas aos alunos, que são menores de idade – prática vedada pelo artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em depoimento, vários estudantes confirmaram que o servidor acusado tentava participar de conversas íntimas entre alunos que lhe eram mais próximos. Nessas situações, em sala de aula, o professor relatava as próprias intimidades, como traição à esposa, e fornecia detalhes explícitos sobre suas experiências sexuais, com menções a surubas e práticas anais. E ainda afirmava que fuma maconha.
O IFMG concluiu que Carlos Augusto de Negreiros praticou improbidade administrativa e conduta escandalosa, cuja pena é a demissão. O PAD foi encaminhado para o Ministério Público Federal (MPF). A reportagem tentou contato com o professor, mas não houve retorno.
Em nota, o IFMG informou que “tem desenvolvido e implementado uma série de ações formativas direcionadas a toda a comunidade acadêmica – incluindo servidores que, em algum momento, foram responsabilizados por condutas de conotação sexual ou comportamento escandaloso”. Segundo a instituição, o objetivo é ter uma cultura institucional baseada no respeito, na integridade e na prevenção de condutas inadequadas.
A investigação jornalística analisou processos administrativos disciplinares sobre assédio sexual e conduta de conotação sexual apurados em universidades e institutos federais de ensino.
Os casos analisados envolvem ao menos 265 vítimas e 132 acusados. Os registros foram organizados em um mapa por localidade e por instituição de ensino. Há relatos de agressões em todos os 26 estados e no Distrito Federal, o que comprova a recorrência das investidas, de norte a sul.
Metrópoles
