Sete meses após a queda de um avião da Voepass em Vinhedo, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu, em caráter cautelar, as operações aéreas da companhia. Dentre as 62 vítimas, estava a menina Liz, de 3 anos e 9 meses, filha da jornalista Adriana Ibba.
“Quando um marido perde uma esposa, quando uma esposa perde um marido, tem a nomenclatura do viúvo, da viúva. Mas uma mãe, quando perde um filho, não tem no dicionário. Não é passível de nomeação”, lamentou Adriana. Liz havia ido passar o Dia dos Pais em Florianópolis e estava voltando para casa no voo 2283, que caiu no interior de São Paulo.
Suspensão de voos
A decisão de suspender a operação da companhia decorre, de acordo com a Agência, da incapacidade da Voepass em solucionar irregularidades identificadas no curso da supervisão, “bem como da violação das condicionantes estabelecidas anteriormente para a continuidade da operação dentro dos padrões de segurança exigidos”.
Adriana recebeu a notícia com um misto de sentimentos. “Foi uma angústia, uma certa raiva, de algo que poderia ter sido feito lá atrás e não foi feito, e uma paz. Senti uma certa luz no fim do túnel”, admitiu. Ela acredita que a decisão da agência reguladora é um primeiro passo para a justiça acontecer e para que as respostas apareçam.
“Eu preciso saber o que aconteceu naquele avião. É o último momento da vida da minha filha”, falou a jornalista. Para ela, a decisão da Anac foi baseada em constatações de que realmente houve irregularidades e acredita que houve um cruzamento de dados entre Cenipa e o inquérito criminal da Polícia Federal, “que teria comprovado que a empresa não está apta e não adota um protocolo de manutenção 100% [eficaz]”.
Em nota, a Voepass alegou que a decisão tem um impacto imensurável para milhares de brasileiros. “Prejuízo imensurável? Eles querem matar mais brasileiros? Dor imensurável é o que eles causaram nas famílias. É inadmissível”, questionou Adriana.
“Já faz sete meses [e agora eles falam]: ‘Nós vamos comprovar para a Anac que a gente está apto’… Comprovasse antes. É assassinato. Eu não sabia, a minha filha de 3 anos não sabia, o pai dela não sabia, todas as pessoas que estavam naquele avião como consumidores não sabiam. Agora, se alguém sabia, essa pessoa é condizente. Essa pessoa é criminosa. A gente é consumidor.”
Adriana lembrou da semana em que precisou ficar em São Paulo esperando a liberação do corpo de Liz. Em uma das reuniões realizadas entre os familiares das vítimas e a Voepass, ela lembra do presidente da empresa falando que o filho dele estava estudando nos Estados Unidos e que tinha o sonho de ser piloto da companhia. Enquanto isso, ela estava sentada segurando a boneca da filha.
Sete meses do acidente da Voepass
No domingo (9/3), quando a queda do avião completou 7 meses, a Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283 realizou uma homenagem no Lago Municipal de Cascavel (PR). Em um primeiro momento, Adriana achou que não iria conseguir comparecer, porque, segundo ela, o lago era um lugar que ela levava Liz para brincar e dar ração para os peixinhos.
Mais de 200 pessoas participaram do evento. Na hora exata em que o avião caiu, os familiares soltaram no ar balões brancos biodegradáveis com sementes dentro.
“Eu confesso que na hora que eu fiz a soltura dos balões, eu me emocionei muito, porque a Liz amava balões”, contou. Em seguida, a jornalista relembrou de uma foto que viu, nessa terça-feira (11/3), da filha. No dia registrado, ela e Liz estavam no shopping e a menina pediu: “‘Mãe, dá um balão?’”.
Adriana sabia que Liz já tinha um balão em casa, mas, mesmo assim, comprou a bexiga. “Eu fiquei olhando essa foto hoje e pensei: ‘Que bom que eu dei mais de um balão. Se eu soubesse que ela iria viver tão pouco… Que bom que eu fiz todas as vontades da Liz. E ela foi muito amada, muito. Ela foi muito zelada, muito cuidada”, se declarou, emocionada.
Metrópoles
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