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“Ela deu voz a milhares”, diz médico da mulher com a pior dor do mundo

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    A campanha da estudante Carolina Arruda, de 27 anos, para financiar seu suicídio assistido levantou um debate sobre a dor crônica no Brasil. A jovem tem neuralgia do trigêmeo, um problema de saúde conhecido por provocar “a pior dor do mundo”, e quer passar pela eutanásia para interromper seu sofrimento.

    Em uma última alternativa em busca de alívio, Carolina se internou por tempo indeterminado na Santa Casa de Alfenas, uma clínica especializada em dor em Minas Gerais. Lá, ela está passando por tratamentos comandados pelo anestesiologista Carlos Marcelo de Barros, presidente da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED).

    Em entrevista, o médico explica como está sendo planejado o tratamento. “Não sabemos quanto tempo vai demorar, quais serão as tecnologias necessárias para tirá-la do sofrimento agudo e absurdo que ela tem vivido há mais de 10 anos. Só quando conseguirmos estabilizar o quadro com analgésicos administrados na veia é que saberemos por onde seguir com o caso”, conta.

    Para Barros, um dos aspectos mais tristes do caso de Carolina é que ele não é incomum no Brasil. Estimativas da SBED apontam que 15 milhões de brasileiros sofrem com dores crônicas e muitos deles apresentam dores que são consideradas “quadros fatais” e levam ao sofrimento físico, social, emocional e espiritual.

    “A neuralgia do trigêmeo é uma das dores mais excruciantes que existem. Embora ela se manifeste em ondas, a sensação é parecida com a de ter um ferro de passar quente queimando a pele do rosto em tempo integral. O mais triste é que existem várias outras síndromes dolorosas complexas que podem levar a sensações parecidas, desde as dores fantasmas de ter o membro amputado até a síndrome pós-laminectomia, causada por falhas de cirurgias na coluna”, aponta o especialista.

    Casos de dor extrema não são raros

    No caso de Carolina, o médico aponta que é preciso esperar as respostas do tratamento, que está sendo definido por uma equipe que inclui psicólogos, fisioterapeutas e assistentes sociais. Ainda assim, Barros afirma que o caso dela possibilitou que os milhares de pacientes que sofrem com quadros parecidos tenham voz e possam pleitear mudanças nos protocolos de saúde.

    “O sofrimento dela abriu os olhos de muitas pessoas para quem, infelizmente, sofre de forma rotineira. Acordamos para a importância de criar políticas públicas pensadas para o tratamento da dor. Não há disciplinas dedicadas à dor na maioria dos cursos de saúde, não temos políticas para dar ferramentas aos pacientes e fazê-los entenderem suas dores, nos ajudarem a tipificá-las e gerir o autocuidado”, lamenta.

    Quem tem dores, porém, tem pressa por uma resposta que traga alívio e as mudanças de política pública costumam ser demasiado lentas. Como Carolina, muitos cansaram de esperar, perderam as esperanças de cura e desejam fazer a eutanásia — para o anestesiologista, só quem sente a dor é capaz de dimensioná-la.

    “Sou médico, não sou juiz, nunca vou julgar o sofrimento dos meus pacientes. Não falo de eutanásia porque esta não é uma possibilidade no Brasil, mas quem sou eu para convencer uma pessoa que vive em agonia sobre seu destino? Espero que a Carolina tenha menos sofrimento e prometi a ela fazer tudo que estiver ao meu alcance. Se der certo, espero que ela reconsidere a eutanásia, mas não questiono o direito dela de fazer escolhas livremente”, conclui o especialista.

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