Juliana Caiaffa, de 45 anos, buscava respostas para a mudança brusca nas habilidades de comunicação da filha Julia, hoje com 5 anos, quando foi confrontada com uma surpresa: ambas, não só a garotinha, poderiam estar dentro do transtorno do espectro autista (TEA). A neuropediatra que atendeu sua filha pediu que a mãe também procurasse acompanhamento médico para avaliar o próprio quadro, o que foi uma surpresa, mas também uma explicação para diversos prejuízos emocionais que sofreu ao longo da vida.
— Eu fui uma criança autista não identificada. Tudo fez sentido, pois eu tenho muita dificuldade em entender piadas, em me relacionar e, na adolescência, fiquei infantilizada por muito tempo. Também tenho muita seletividade alimentar e andava na ponta dos pés — diz Juliana, mãe de Nina, de 12 anos, e Renato de 3, todos com autismo com o nível mais baixo de suporte, mas também com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e altas habilidades.
A identificação da síndrome em adultos é um atalho para entender a revolução pela qual passa o TEA nos últimos anos — e também um fator que ajuda a explicar a alta de diagnósticos no Brasil e no mundo.
O avanço dos diagnósticos impressiona. Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de casos de autismo saltou de 1 a cada 150 crianças com 8 anos de idade, em 2000, para 1 a cada 36, em 2020. O levantamento é do respeitado Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). O Brasil não tem um dado específico sobre essa população, mas a percepção de muitos especialistas é que há, sim, mais procura por consultas que possam chegar ao diagnóstico correto desses pacientes.
Paulo Mattos, médico psiquiatra do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) diz que o aumento de quadros de autismo é amplamente discutido no meio científico. Em geral, há certo consenso de que o maior conhecimento sobre o transtorno é o grande influenciador desse cenário.
— O estigma faz com que as famílias não procurem o diagnóstico, pois há muita vergonha nesses casos. Quando você reduz o preconceito você aumenta a taxa de prevalência — diz. — No autismo, passamos a identificar melhor os casos mais leves, com menor nível de suporte. Porém é preciso deixar muito claro e reafirmar que não há qualquer relação do aumento do transtorno com o uso de vacinas. Isso foi sugerido em um estudo fraudulento e está comprovado que não há relação.
PARAÍBA DA GENTE
Com O Globo























