Segunda escola a desfilar no Anhembi, neste sábado (22), a Gaviões da Fiel vai tratar da luta contra o racismo, o fascismo e as opressões na sua apresentação, e entre os destaques que vinham sendo guardados em segredo pelo carnavalesco Paulo Barros está uma sátira ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ele será interpretado pelo carioca radicado em Londres Neandro Ferreira, 55, e faz parte da ala Governantes e Generais. “Vou vir como um Bolsonaro bem gay, bichíssima, dando muita pinta”, conta ao F5 o hair designer (um degrau acima do bom e velho cabeleireiro). Neandro promete ir além: vai levantar, em plena avenida, “e mais de uma vez” uma plaquinha com os dizeres “Fora Bolsonaro”.
O papel do carioca no desfile é coerente com o que foi apresentado pela escola ao anunciar a sinopse do enredo “Basta!”. A Gaviões prometeu promover “um levante com ímpeto subversivo” e antifascista no sambódromo.
O samba tem Marcelo Adnet entre os compositores, e sua letra cita episódios recentes de racismo e outras violações dos direitos humanos. Traz também referências a nomes importantes para os movimentos sociais, como o ex-presidente da África do Sul e Prêmio Nobel da Paz, Nelson Mandela, e o Cacique Raoni, líder indígena pioneiro na luta pela preservação da Amazônia.
Adnet, considerado um dos melhores imitadores do presidente no país, foi o compositor do samba-protesto “O Conto do Vigário”, que a escola carioca São Clemente desfilou na Sapucaí em 2020, quando também interpretou Bolsonaro no alto de um carro. Ele chegou a fazer desajeitadas flexões e bater continência, atos e gestos frequentes no repertório presidencial.
Na versão que a Gaviões mostrará em seu desfile, o político estará acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, interpretada pela cabeleireira Gisele Porto, de Brasilândia (zona norte de São Paulo). “Ela vai ser muito bem tratada, reverenciada e cortejada pelo presidente que vou interpretar”, diz Neandro.
“Vou fazer tudo exatamente ao contrário da maneira como ele faz. É realmente um manifesto contra o machismo, o fascismo e o preconceito”, diz o cabeleireiro, que teve entre seus clientes a cantora islandesa Björk, o estilista britânico Alexander McQueen (1969-2010) e atrizes como Maria Fernanda Cândido, Alessandra Negrini, Andréia Horta e Camila Queiroz.
CONFIRA LETRA DO SAMBA-ENREDO:
Sou eu….
O filho dessa pátria-mãe hostil
Herdeiro da senzala Brasil
Refém da maculada inquisição
Axé meu irmão!
O pai de mais um João e de mais um Miguel
Na mira da cega justiça
Que enxerga o negro como réu
Sou eu o clamor da favela
O canto da aldeia, a fome do gueto
Meu punho é luz de Mandela
No samba o levante do novo Soweto
Cacique Raoni da minha gente
Guerreiro GAVIÃO, presente!
Essa terra é de quem tem mais
Conquistada através da dor
As migalhas que você me oferece
Só aumentam minha força pra mostrar o meu valor
Meu lugar de fala, a voz destemida
Cabeça erguida por nossos direitos
Quando o fascismo do asfalto
É opressor à militância por respeito
O ventre das mazelas sociais
Ante ao preconceito vai se libertar
Vidas negras nos importam
O grito da mulher não vão calar
Meu Gavião chegou o dia da revolução
Onde a democracia desse meu Brasil
Faça o amor cantar mais alto que o fuzil
Escute o meu clamor
Oh pátria amada
É hora da luta sair do papel
Basta é o grito que embala o povo
Eu sou Gaviões, sou a voz da Fiel
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