Destaques

A pornografia e a decadência da nossa música: o Sucesso Erótico da Periquita – Por Gil Sabino

    0

    Há no Brasil, segundo pesquisadores, uma questão que põe dúvida sobre qual teria sido a primeira música erótica publicada no país. Se foi “Eu Dei”, interpretada por Carmem Miranda, e gravada em 1947, ou  “O Cheiro da Carolina”, de Luiz Gonzaga, aquela que diz que Carolina foi pro Samba e todo mundo se encantou do cheiro dela, e no final tem um resmungado: hum, hum, hum… Ambas, as músicas, lançadas no Brasil com muito sucesso em 1956. De lá pra cá muitos anos se passaram e o cancioneiro popular brasileiro só aumentou o número de canções dessa classe e natureza, erótica, romântica, inclusive, de duplo sentido.

    Carmen Miranda foi um desses ícones da música brasileira que expandiu a carreira profissional para o mundo. Participou de filmes e cantou nos Estados Unidos. Ousada, bela e com uma voz brilhante, foi das primeiras cantoras a se apresentar usando vestidos decotados e curtos, sensualizando e mostrando seios e pernas e tudo o mais. Arrasou também com seus chapéus decorados com arranjos de frutas tropicais brasileiras (abacaxi, banana, laranjas), representando muito bem o Brasil.

    Luiz Gonzaga, O Rei do Baião, era ainda um moço recém-saído da adolescência quando deixou Exu, sua terra natal em Pernambuco, e foi para o Rio de Janeiro e São Paulo, tocar e ganhar dinheiro. Lá conseguiu sucesso mostrando a música da sua região, o xote, baião e o forró. Um dos mais expressivos nomes da música brasileira para o mundo. Além de Carolina, ele inseriu no repertório outros xotes e baiões de cunho erótico.

    É dessa mesma época, o sucesso Sebastiana, que brinca com as vogais A-E-I-O-U e um certo duplo sentido, do paraibano Jackson do Pandeiro.

    Mas o boom da música erótica no país veio mesmo entre os anos 70 e 80, quando apareceram os forrós de duplo sentido, colocando nas paradas Genival Lacerda e a sua “Severina Chique Chique”, João Gonçalves e a lapa de “Minhoca”, Sandro Becker com o gato “Tico Mia”, e outros sucessos, e a famosa dançarina Gretchen, com o seu “Conga, Conga, Conga”, e a dança do bum bum, mesma época que apareceu Sidney Magal e o “Meu Sangue Ferve Por Você”.

    O samba teve Wando (melô da calcinha), Agepê (te pego no colo, te deito no chão, pra te fazer mulher), e Martinho da Vila, que de alguma forma trouxeram suas colaborações nessa área da sensualidade. Como até o rock, com a madrinha Rita Lee, e a sua “Mania de Você” onde canta “Meu bem você me dá água na boca, Vestindo fantasias, tirando a roupa, Molhada de suor, de tanto a gente se beijar, De tanto imaginar loucuras”, para logo depois, em 1980, trazer o sucesso “Lança Perfume” e os versos mais afiados: “você me vira de ponta-cabeça, Me faz de gato e sapato, Me deixa de quatro no ato, Me enche de amor, de amor”. E ainda, na levada dos anos 80, a banda Kid Abelha cantaria   “Como eu Quero” que “Diz pra eu ficar muda, Faz cara de mistério, Tira essa bermuda Que eu quero você sério”.

    Outros grandes nomes da MPB tiveram também marcados sucessos que provocaram multidões como a cantora Simone, Joanna, Ney Matogrosso, Alcione, Roberto e Erasmo Carlos, Maria Betânia, Gonzaguinha, e muito outros.

    A música foi aderindo a um ritmo cada vez mais ligeiro e apimentado, sempre versando em cima de histórias de amor, e pegou boa carona na levada sertaneja e no forró, hip hop, e outros ritmos.   A sensualidade tomou conta da cena com artistas como Anitta, Isa e outras, sempre provocando com suas músicas e visual atrevidos, chamando pra um love.

    Daí, com o advento da internet, os hits começaram a aparecer através das mídias sociais, com seus inúmeros dados de acesso e streamings, e foram abertas as portas da pornografia sem censura, sem limites. O uso das partes sensuais e seus adjetivos mais chulos, rasteiros, ganhou lugar no gosto e consumo populares.

    Nesta semana, o sucesso veio pelo nome de “A Periquita”, em que a cantora Juliana Bonde (ex-crooner da banda Bonde do Forró, da Bahia), oferta o corpo perguntando “Quem vai querer a minha Periquita?”, além de mencionar o nome de grandes personalidades como o Padre Fabio de Melo, Luan Santana, Boni – diretor da TV Globo, o ex-presidente Lula, e o atual, Bolsonaro, entre outras.

    De um para outro dia, com a ajuda da tecnologia, a música atingiu a marca de mais de 40 milhões de acessos. Vejam só, a evolução da música erótica no país, em que cantar “A Rola” (Selma do Coco, de Olinda, PE), e a “Periquita” passaram a serem fatos naturais do consumo contemporâneo. É isso.

    * Abaixo os links de Carolina e Periquita, pra você curtir.

    O Cheiro da Carolina – Luiz Gonzaga

    https://www.youtube.com/watch?v=s1PraTcSrso

    Periquita – Juliana Bonde

    https://youtu.be/E9kQTLRQdRI

    paraibadagente

    Errou o valor: rede Globo manda pix errado de R$ 318 mil e homem compra casa; caso vai parar na Justiça

    Post anterior

    João se distancia e grupo Cunha Lima deve assumir controle do PSD na PB

    Próximo post

    Veja também

    Comentários

    Comentar

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    Mais em Destaques